Quero começar este post com uma musiquinha do Mogli - O menino lobo:
O que nós como seres humanos, não como meninos lobos, precisamos pra viver? Qual é o nosso necessário? Quem dita quais são as nossas necessidades? Nós, algo ou alguém? O que fazemos para suprir as nossas necessidades? Como fazemos? Que meios usamos para fazer? Quanto tempo, dinheiro, vida investimos em satisfazer as nossas necessidades? Serão respostas que segundo Álvaro Vieira Pinto [1965] servirão sempre de molde e serão moldadas pela cultura, pela economia e pela política.
Podemos dizer que a tecnologia começou a existir como prática possível de ser observada a partir do momento em que o homem começou a tomar consciência de que existia. Por que? Porque existindo, surgem de imediato as necessidades básicas para a sobrevivência. Segundo Maslow [1954] essas necessidades seguem uma hierarquia (ver imagem abaixo) e seriam fisiológicas (comida, água, descanso...), segurança (abrigo), relacionamento (amizade, afeto, família...), estima (conquista, reconhecimento...) e autoatualização (atingir o potencial máximo), ver figura abaixo.
Figura 1. Hierarquia das necessidades humanas
Fonte: adaptado de Maslow (1954)
Claro que não conseguimos dizer ao certo quando isso começou no espaço de tempo. Mas podemos observar o surgimento da tecnologia a partir de sinais simbólicos na história como a produção de ferramentas mais complexas para a caça, a presença de gravação e pinturas em rochas que são as artes rupestres como forma de comunicação. Estes artefatos transmitem reflexões sobre a vida, cultura e crenças dos primeiros seres humanos e apontam para o surgimento da consciência humana, da preocupação com a subsistência e com o ambiente ao redor.
É essa consciência humana que desperta no ser humano o anseio de ser, de criar, de interagir e alcançar seu potencial máximo. É uma necessidade gradual, contínua e distinta ao longo de cada época da história da evolução humana. De maneira curta, a tecnologia surge para suprir as nossas necessidades reais e imaginárias como seres humanos.
Segundo o trabalho de Lacan [1985], a necessidade imaginária não surge de uma necessidade real, mas é construída através de influências sociais, culturais, políticas e psicológicas. Ou seja, não seria uma necessidade vital para a sobrevivência ou bem-estar humano, mas criada por fatores externos, e que penetram e criam raízes em nosso inconsciente.
Mas a tecnologia não faz distinção de necessidades. Por isso, precisamos estar atentos para que nossas necessidades sejam as mais reais possíveis. Devemos ser seres humanos conscientes, ou seja, devemos exercitar constantemente nossa capacidade de discernir entre o certo e errado, entre o necessário e o não necessário. Segundo o catecismo da Igreja Católica (parágrafo 1776), o ser humano tem a obrigação de agir com consciência, pois ela é "o núcleo mais secreto e o santuário do homem, onde ele está sozinho com Deus".
Fazemos uso de tecnologias constantemente! Isso é um fato. A menos que você seja um menino lobo criado na selva vivendo com os animais selvagens. Por isso, é importante ter consciência de que embora a tecnologia desempenhe um papel significativo em nossas vidas, somos nós, como seres humanos, que mantemos o controle sobre como ela nos afeta e influencia. Em outras palavras, somos nós que decidimos como ou com qual frequência vamos incorporá-la em nosso dia a dia, que impomos limites éticos e práticos de seu uso.
Não podemos negar as mudanças tecnológicas, estamos vivendo em uma era digital. Nós seres humanos possuímos uma capacidade histórica de nos adaptarmos e de sermos resilientes diante de mudanças. Como indivíduos conscientes, continuaremos desenvolvendo maneiras de integrar as novas tecnologias de forma significativa e harmoniosa em nossas vidas, e desta forma garantir a sustentabilidade da inovação tecnológica. Ou seja, garantir o desenvolvimento e a incorporação de novas tecnologias sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas reais e próprias necessidades.
Referências:
- VIEIRA PINTO, Álvaro. O Conceito de Tecnologia. Rio de Janeiro: Editora da Universidade do Brasil, 1965.
- Catecismo da Igreja Católica. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
- LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 2: O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
- MASLOW, Abraham H. Motivation and Personality. New York: Harper & Row, 1954
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